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quinta-feira, 5 de março de 2009

O Guerreiro, a.k.a.The Warrior

Vi "O Guerreiro" no outro dia... uau, antes de mais. Quando o vi à venda há uns meses valentes - sim, porque comprei-o mas só o vi uns 6 meses depois - o pouco que li no DVD pareceu o suficiente para me convencer.
Uma sinopse vulgar sobre um tipo de história que gosto de ouvir: Guerreiro decide abandonar a sua carreira de carnificina após um encontro místico com uma rapariga.

Ok, de repente não parece muito, não parece nada de especial; até vermos o filme de facto.

Começa a história. Nos desertos do Rajastão vive um indivíduo muito ruim, o senhor feudal, que tem a seu soldo diversos guerreiros que, como se sabe, em tempo de paz fazem as guerras dentro de casa.

Assim, vemos Lafcadia (Irrfan Kahn, sim sim, o polícia do Slumdog Millionaire) ser chamado para punir exemplarmente uma aldeia por não pagar tributo.
Começam-se a notar os detalhes que tornam este filme uma experiência singular; começa-se a notar que os diálogos são quase inexistentes e que a fotografia é soberba.

Durante a aplicação da exemplaridade feudal na malograda aldeia, o herói (que apesar de não cumprir nenhum desígnio que lhe confira o título, será por mim assim chamado dado o seu perfil Olímpico e Prometaico) cruza-se com uma pequena rapariga e vê-se transportado para as neves eternas da sua aldeia natal dos Himalaias. Despertado do sonho, vê neve sob os seus pés nas areias do Rajastão.

É mais ou menos por esta altura que compreendemos que este filme tem outra coisa qualquer aqui pelo meio...

O herói compreende a vaidade das coisas e os malefícios da avareza sem limites e decide abandonar o serviço do senhor feudal (também conhecido como deserção) e encaminhar-se para a aldeia que o viu nascer.
Claro, o senhor feudal não vai nisso e falando como um verdadeiro mafioso prontamente afirma "ninguém abandona o serviço, tragam-me a sua cabeça".

O herói passa por casa para levar o filho que, após algumas peripécias acaba por ir parar às mãos dos perseguidores e conhecer um fim menos agradável.

E aqui começa a dura escalada espiritual. Digo escalada porque a metáfora é bem presente no filme. Dos desertos do Rajastão onde grassa a miséria e o ódio, até às montanhas dos Himalaias e a paz eterna.

Confesso que ver em imagens - e que imagens - aquilo que se podia ter lido nas "Meditações Sobre os Picos" de Julius Evola me fascinou.

O filme tem um constante carga mística e mesmo esotérica que não passará desapercebida ao olho do adepto. É precisamente esta carga mística constante que torna este filme especial, etéreo e pungente ao mesmo tempo.

Por esta altura os paralelismos com Asoka serão inevitáveis para muitos, admito, mas escusados a meu ver porque as semelhanças são só mesmo aparentes: Guerreiro abandona a violência para se dedicar à paz. As diferenças no entanto... imensas.
Eu gosto do Asoka, notem, mas este filme é um Asoka mesmo muito bem filmado, sem fait divers e que veicula de um modo claro a mensagem latente da não violência patente no filme com o outro Kahn, o Shahrukh.


Mais acima tinha dito que os diálogos no filme são parcos e isso, meus amigos, construir uma narrativa sólida assente fortemente no visual, é um feito se bem conseguido e neste filme foi feito magistralmente.
Muito se deve a Irrfan Kahn e à sua postura no ecrã absolutamente dominada e dominadora. Ele não precisa de falar da dor estampada na sua cara, nem dos horrores que viu, está lá bem expressa no olhar profundo. Um grande bem haja também a todos os que ajudam a compor o ramalhete em termos de elenco, em particular a Noor Mani, um rapaz de rua sem formação de actor que desempenha o papel do ladrão Riaz.

Se têm saudades de ver e ouvir uma história decente, filmada como deve ser e com um desempenho performativo à altura, é este. Se por outro lado, esperam ver batalhas, explosões e a trivial história do menino que conhece a menina e não sei o quê, vejam outro.

1 comments:

bárbara disse...

Sem dúvida, este filme é uma maravilha e Irrfan Khan tem um desempenho sem falhas. Lindo!

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