Raramente é tarefa grata escrever sobre um filme que obteve grande sucesso, ainda menos escrever sobre um que foi um marco do cinema indiano, mas é isso a que me proponho hoje.
Quem estiver a pensar que este filme é um típico épico aclamado pelo seu jogo de luz e sombra, ou enredo de grande profundidade, canções e coreografias maravilhosas e todos aqueles ingredientes que nós, amantes do cinema indiano, tanto apreciamos, desengane-se.
Esta obra dos irmão Ramsay, realizada em 1984 não se tornou uma referência por nenhum destes motivos, mas sim por ser o primeiro filme a introduzir um monstro caseiro no cinema.
Há 200 anos atrás, Saamri (Ajay Agarwal), o terrível vilão deste filme, era um monstro sanguinário que se entretia a violar e esventrar mulheres recém-casadas, mutilar e canibalizar crianças e a exumar corpos para sacrifícios demoníacos e que tinha o seu covil na Kali Pahari (Montanha Negra).
No ínicio do filme vemos como a princesa Rupali, filha do Rajá Harimansingh, desaparece numas ruínas de uma antiga fortaleza nas imediações da Kali Pahari e rapidamente se torna vítima da terrível criatura.
O Rajá consegue capturar Saamri e este é levado a tribunal, onde são expostos os seus crimes.
O Sacerdote Real sugere que este seja sujeito a imolação por Agni (fogo) puro, mas o Rajá propõe que Saamri seja decapitado, sendo o corpo enterrado nas traseiras do templo de Kalighat e a cabeça, guardada num cofre guardado na sua mansão.
"Enquanto a minha cabeça estiver longe do meu corpo, todas as mulheres da tua linhagem morrerão durante o parto; e quando a minha cabeça se reunir com o meu corpo, erguer-me-ei e matarei todas as pessoas da tua dinastia", ameaça Saamri momentos antes da sua morte e o filme avança para os nossos dias (se os nossos dias forem os 80's, claro) e aí conhecemos o tetra neto do Rajá, Thakur Ranvir Singh (Pradeep Kumar) que vive agora na cidade com a sua filha Suman (Aarti Gupta).
Suman é uma aluna universitária que namora com Sanjay (Mohnish Behl) com o qual se diverte em piscinas, praias e clubes nocturnos (claro) e uma parte deste filme que merece ser chamada à atenção é mesmo o guarda-roupa de Suman, tão característico da época.
Quando Thakur descobre a relação da sua filha, finge desaprovar porque Sanjay não é de ascendência real, mas na verdade é porque não quer que este sofra com a inevitável morte da sua esposa, aquando do nascimento de um filho.
Pressionado por Suman e Sanjay, que não se conformam com os argumentos de Thakur, este acaba por revelar a maldição que aterroriza a sua família há 200 anos.
E assim partem Suman e Sanjay, determinados em pôr um fim à maldição...
De acordo com o cânone do cinema ocidental, este será um Série B, sem dúvida mas, como muitos similares, é um bocado bem passado, com a combinação certa de suspense, acção e terror. Tem cenas de pancada, raparigas sedutoras, um elemento cómico e um monstro tenebroso que suga a vida às suas presas pelos olhos... Ainda têm dúvidas sobre a qualidade deste filme?
Faz-me lembrar os tempos do VHS e de como eu aluguei, literalmente, todos os filmes de terror que existiam no meu vídeo clube. O cinema desta altura, e destes géneros, podia não primar pelo requinte da caracterização ou pela qualidade dos efeitos especiais, mas tinha um apelo próprio.
Às vezes, ver sangue assim tão falso é uma coisa boa num filme.
2 comments:
Aterrorizador!
Lindo! Este filme é Rock 'n' Roll puro!
Postar um comentário