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quinta-feira, 1 de julho de 2010

IV Mostra de Bollywood e Cinema Indiano em São Paulo - À Conversa com Ibirá Machado

A cidade brasileira de São Paulo acolhe a partir de dia 6 de Julho a IV Mostra de Bollywood e Cinema Indiano.
Ao longo de quase um mês a Cinemateca Brasileira apresentará obras recentes e clássicas da cinematografia indiana, pretendendo assim divulgar e promover filmes ainda desconhecidos do grande público brasileiro.

Este ano um dos curadores da Mostra é o blogger Ibirá Machado, criador do site Cinema Indiano, e foi sob esse pretexto que fizemos esta pequena entrevista.


GM Em primeiro lugar, obrigada por teres aceite o nosso convite para uma entrevista.
Conta-nos como foi o teu primeiro contacto com o cinema indiano. Gostaste de imediato ou foste aprendendo a gostar?

IM Eu é que agradeço pela oportunidade, e ainda aproveito pra também agradecer por nossa parceria, que acredito ter sido a primeira em língua lusófona sobre o cinema indiano, não?

Bom, o primeiro filme indiano que vi foi Asoka (2001), de Santosh Sivan, com Shahrukh Khan e Kareena Kapoor, provavelmente em 2003 (misteriosamente ele existe em videolocadoras no Brasil). Se vi algum outro antes eu não me recordo. Naquele momento, ao ver o filme, confesso que fiquei com uma sensação extremamente mista. Por um lado, achei tão diferente, brega e com uma estrutura tão descabida, que eu teria facilmente não gostado. Acontece que o outro lado falou muito alto comigo. Este outro lado referia-se à capacidade da Índia de fazer filmes grandiosos como aquele, de manter-se afastada da indústria estadunidense; referia-se também até à própria estética que, embora em princípio duvidosa pra mim, era imensamente diferente do que eu estava acostumado - e isso me fascinou. Daí, muito lentamente, fui vendo mais um filme ou outro e, cada vez mais, aprendendo, sim, a gostar.

Ainda assim, e como é sabido por todos que me conhecem, há inúmero filmes que eu não gosto, mas que são amados por muitos. E alguns desses, confesso, venho, pouco a pouco, também aprendendo a gostar. É tudo uma questão de desfazer-se dos filtros que temos, geralmente porque não questionamos o porquê de tê-los, e abrir a mente à amplitude cultural que o mundo oferece. E o cinema indiano é um mundo em si.


GM Quando criaste o blog Cinema Indiano, há cerca de dois anos , fizeste-o por sentires vontade de escrever sobre filmes indianos ou já imaginavas que pudesse haver mais pessoas que partilhassem o mesmo interesse?

IM Eu sabia que aqui no Brasil havia uma pessoa ou outra que tinha o mesmo interesse e era pra essas pessoas que eu queria escrever. Eu havia acabado de retornar da Índia e estava realmente impressionado com a força do cinema indiano, sem falar na qualidade de inúmeros filmes e no impacto dele na sociedade. Também nunca escondi que criei o blog pra divulgar e fomentar a campanha para trazer Taare Zameen Par ao Brasil. O que aconteceu depois dessa iniciativa foi consequência do destino e que eu simplesmente adotei com o maior prazer.


GM Como surgiu esta oportunidade de participares na organização da Mostra de Bollywood e Cinema Indiano em São Paulo?

IM Até o ano passado, quem organizava a Mostra era o indiano Ram Prasad Devineni, da Rattapallax e da Academia Internacional de Cinema - AIC, e produtor do filme Bollywood Dream (2010), de Beatriz Seigner. O grande problema para ele era o fato de ele não morar no Brasil e de não ter contato direto com o cinema indiano, apesar de ter familiares dentro da indústria. Ano passado, então, ele resolveu passar a tarefa para a Beatriz que, por sua vez, acabou me chamando para ajudar.


GM A programação da Mostra é bastante eclética. Quais foram os critérios principais na selecção dos filmes apresentados?

IM Inicialmente, a Mostra teria como eixo filmes que retratassem os conflitos por que a Índia passou na construção de seu Estado, desde sua independência, em 1947. Acontece que montar uma mostra não é nada fácil e estivemos relativamente presos às burocracias e surpresas que envolve isso tudo. Ao invés de montarmos como gostaríamos, a verdade é que dependemos muito do que o Consulado da Índia em São Paulo pode oferecer. Mas não reclamo, ao contrário. No final das contas, a Mostra fechou com um ótimo e amplo panorama de grandes cineastas da Índia, o que acabou virando seu eixo central.


GM Muita coisa mudou no Brasil em dois anos. Há comunidades sobre cinema indiano na internet, o termo “Bollywood” vulgarizou-se e o cinema indiano ganhou seguidores fiéis que promovem activamente os seus filmes preferidos.
Actualmente, acreditas que o Brasil tem potencial enquanto mercado de exibição regular de filmes indianos?

IM Com certeza e sou enfático nisso. É óbvio que não se trata de absorver a imensa produção indiana, mas sim de trazer anualmente uma obra ou outra. Mesmo que venham dois filmes ao ano já seria um lucro de 200%, já que filmes indianos nunca vêm ao Brasil, simplesmente. Há obras na Índia, hoje, que seriam facilmente assimiladas pelo público brasileiro. Taare Zameen Par e Jodhaa Akbar, por exemplo, já se provaram filmes de sucesso no Brasil, mas ainda assim os distribuidores parecem temer. E olha que esses dois filmes não seguem exatamente a estrutura bollywoodiana de ser. Ainda assim, acredito que até os mais bollywoodianos dos filmes poderiam vir, porque nichos sempre existem, ainda mais hoje em dia, que o público de cinema indiano no Brasil explodiu.


GM Ainda existem alguns preconceitos sobre o cinema indiano por parte do grande público e de alguns segmentos da crítica. Na tua opinião, o que é que torna o cinema indiano especial ou digno de interesse?

IM O próprio fato de a Índia ser o país que mais faz filmes no mundo já é um fator. O efeito que o cinema provoca no dia a dia das pessoas na Índia é outro fator. Mas não estamos na Índia e nem somos indianos, poderiam dizer. Sim, mas somos seres humanos, produzimos e consumimos cultura. Crescemos em uma sociedade que, em verdade, nos enganou e engana a cada instante. Ligamos a TV e somos obrigados a absorver uma fatia minúscula do que o mundo produz de cultura, como se aquilo fosse o que o mundo todo conhecesse - o que não é verdade. Vamos ao cinema e já sabemos que as opções serão um belo punhado de filmes estadunidenses e, com alguma sorte, algum brasileiro, ou europeu, ou latinoamericano, ou mesmo asiático. Mas nunca indiano, absolutamente nunca. Eu falo isso porque moro em São Paulo, onde o acesso a diferentes culturas é tão mais expressivo dentro do Brasil.

Eu disse tudo isso pra que fique claro que o que tenho com o cinema indiano é, antes de tudo, uma relação de justiça. De preconceito por preconceito, por que é que estes tais segmentos da crítica não questionam o domínio de Hollywood?


GM Para terminar, gostaríamos que deixasses uma sugestão de alguns filmes para os leitores que ainda estejam a começar a conhecer o cinema indiano e não tenham possibilidade de ir à Mostra de São Paulo.

IM Olha, pra quem está começando agora, há que se passar por algumas obras se quiser entender algumas das faces mais expressivas do cinema indiano. Taare Zameen Par e Jodhaa Akbar, já citados, podem ser bons começos. Depois, ninguém pode deixar de ver Devdas, por mais polêmico que ele seja entre os fãs de cinema indiano. A partir daí, então, há muito por se explorar. Na Mostra, por exemplo, estará o filme The Terrorist, que gosto tanto e é um incrível exemplo da capacidade que a Índia pode ter no cinema. Aliás, The Terrorist é de Santosh Sivan, o mesmo do Asoka, o primeiro filme que vi, e ambos são profundamente diferentes, já que o primeiro é obra totalmente independente e o segundo foi feito pela indústria de Bollywood propriamente.

De resto, aconselho aos leitores nunca deixarem de seguir o Cinema Indiano e o Grand Masala, tendo, assim, uma fonte contínua e segura de dicas de filmes.

9 comments:

Ibirá Machado disse...

\o/

Obrigado mais uma vez pelo convite, Barbs! :D

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Embora quando fosse miúdo, ter quase a certeza que vi alguns filmes indianos, é engraçado que o primeir que me recordo bem é também "Asoka". Parabéns ao Ibirá e ao Grand Masala pela excelente entrevista e já agora, boa sorte para a mostra!

Anônimo disse...

Pelos vistos, o Asoka une-nos a todos: foi também o meu primeiro filme de Bollywood! E acho que também da Barbie-o!

Anônimo disse...

Adorei a entrevista! Parabéns ao site e ao Ibirá!!!

bárbara disse...

É verdade, o Asoka também foi o primeiro filme indiano de que me lembro "oficialmente", embora, tal como o Jorge, tenha a certeza de ter visto alguns em miúda.

Sabem o que é que isto quer dizer? Que se houver mais filmes indianos editados em Português (como o Asoka) haverá obviamente mais pessoas a vê-los. É uma lógica simples que infelizmente não apela às distribuidoras...

Agradeço novamente ao Ibirá pela amabilidade, já há muito que queria fazer esta entrevista mas estava à espera da desculpa ideal ;)

E obrigada pelo apoio, pessoal :)

Ibirá Machado disse...

Gostei da teoria de Asoka, barbs. Eu iria dizer que é a força de Dharma, mas sua teoria tem mesmo mais lógica ;)

Esse mundo há de evoluir!

tatiana disse...

Ibi adorei a entrevista, e concordo com você quando se refere a importância de conhecermos culturas diferentes às nossas. Isso amplia vivencias e nos coloca em um lugar mais livre de pré-conceitos (só assim para realmente entendermos a palavra). Parabéns pela realização da amostra!

Carol Juvenil disse...

Parece que só eu tive a sorte de começar com Kal Ho Naa Ho...

Não sei mais o que dizer sobre cinema indiano no Brasil, parece que já disse tudo o que tinha a dizer. O momento agora é de agir, e fico feliz por eu e tantos outros termos nos unido a vocês (Ibirá, equipe do GM) nesta hora de ação. Dá trabalho, mas é muito bom.

Cinema indiano no Brasil e em Portugal! :)

bárbara disse...

:)
Obrigada, Waheeda!

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