É um facto. Já há meses que disse que escreveria sobre o filme Black, de Sanjay Leela Bhansali, e nunca o fiz.
Vou agora redimir-me, aproveitando a notícia de que Black estreou no passado mês de Agosto na Coreia em 180 salas de cinema, tornando-se o 3º filme mais visto no país na semana de lançamento. A editora Yash Raj está a fazer esforços para criar novos nichos de público para o cinema indiano e esta incursão pela Coreia prova que é um investimento com resultados.
Primeiro vamos falar daquilo que Black não é.
Não é um filme alegre. Não tem um final particularmente feliz.
Não é um filme que siga a fórmula Bollywood ainda que tanto o realizador como os protagonistas sejam artistas respeitadíssimos e imensamente populares entre os fãs do cinema popular de Mumbai. Terá, aliás, sido essa credibilidade junto das audiências que impediu Black de ser um risco ainda maior do que já foi.
Por outro lado, Black é um passo óbvio na direcção de uma cinematografia mais intelectual do que é usual no cinema mainstream indiano, aproximando-se dos cânones do cinema americano e europeu (ainda que esteja longe de poder ser considerado "alternativo").
O seu realizador, Sanjay Leela Bhansali, é quanto a mim o mais descarado esteta do cinema indiano contemporâneo, e não raras foram as vezes em que o acusaram de abusar do formalismo em detrimento do conteúdo. No entanto, é perceptível a sua ambição como realizador para produzir obras melhores, maiores e mais profundas. Peço desculpa pela bajulação, mas eu adoro este senhor. Sanjay Leela Bhansali também já fez saber que tem no popular mas introspectivo Guru Dutt o seu realizador preferido, pelo que antevejo um futuro muito interessante para Bhansali!
Mas regressando a Black.
Baseando-se em parte na história verídica de Helen Keller, trata-se da segunda incursão de Bhansali nos meandros da privação de sentidos, sendo que a anterior, Khamoshi: The Musical, lidava com a questão da surdez.
Em Black as personagens principais são Michelle (Rani Mukherjee) e o seu tutor Debraj (Amitabh Bachchan). Debraj é contratado pelos pais de Michelle quando esta já tem oito anos e não domina qualquer tipo de linguagem, sendo assim completamente alienada do mundo em redor (e daí o título Black).
Os seus métodos pedagógicos algo agressivos não são bem vistos pela família da rapariga, mas a mãe decide dar-lhe uma oportunidade. E é a partir daí que Michelle aprende a comunicar, a comportar-se e, mais importante, a relacionar-se com os outros.
A narrativa vai avançando de modo mais ou menos previsível, pelo menos para quem está habituado ao género americano semi-lamechas do filme sobre a pessoa incapacitada que se supera a si própria e surpreende toda a gente. Por isso mesmo, Black não é um filme particularmente interessante: não tem nada de novo nem tem nada de indiano. Mas lá está, este é o ponto de vista de quem se habituou a um mercado saturado deste tipo de filmes e o facto é que independentemente disso, Black abre possibilidades para uma maior diversificação de géneros e de formas de contar histórias made in India. E isso só pode ser positivo.
No entanto, nada do que eu disse anteriormente significa que não tenha gostado. Gostei e até acho que teve alguns momentos bestialmente fortes - principalmente aquele mais para o fim em que Michelle, já adulta, pede ao tutor que a beije e em que vemos o que isso faz à relação dos dois.
Recomendado a fãs de cinema em geral, a fãs de Bollywood nem por isso.
sábado, 26 de setembro de 2009
Black
Escrevi sobre: Amitabh Bachchan, Black, Bollywood, Cinema Indiano, Crítica, Guru Dutt, Portugal, Rani Mukherjee, Sanjay Leela Bhansali
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4 comments:
Black é lindo, surpreendentemente lindo. Tanto que foi o segundo filme que postei no Cinema Indiano. E conhecer mais a fundo a história de Helen Keller vale muito a pena.
Eu, particularmente, tendo a não gostar do Sanjay Leela Bhansali pelos exageros que ele gosta de utilizar em suas direções, mas reconheço que ele indubitavelmente é um diretor à parte. E Black prova isso. :)
Pois é, até pensei em colocar um link para o teu post mas entretanto esqueci-me.
Aqui está ele :)
Haha, mas nem precisa! ;)
E veja a troca espontanea: acabei de postar sobre Kaminey (que assisti ontem à noite), e lá sim coloquei o link daqui, a respeito de Patrícia Bull :)
Ahhh, que lindos nós os dois ^_^
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