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terça-feira, 13 de abril de 2010

The Darjeeling Limited


Já que a nossa barbie-o deu o mote com o Bombay Talkie, vou aproveitar a deixa e falar sobre um outro filme feito sob uma perspectiva ocidental tendo como pano de fundo a Índia. Não se preocupem que eu não me esqueci dos meus afazeres e deveres: Helen e Bollyhorror continuarão a ser as minhas mecas indianas aqui no Grand Masala (assim como algum Dharmendra!).

Antes de mais, tenho que dizer que o Wes Anderson é o meu menino bonito do cinema actual. Para terem uma ideia, eu gosto tanto dos filmes que ele faz que, se pudesse, vivia dentro deles. Os mundos que ele cria são completos e auto-subsistentes e a sua atenção ao pormenor é sempre altamente cuidada, nunca deixando nada ao acaso tendo a sua maior expressividade nos cenários e adereços que ajudam a definir o meio em que as personagens se inserem. The Darjeeling Limited não é a excepção a esta sua regra e recomendo vivamente a verem qualquer um dos seus filmes no grande ecrã para terem oportunidade de assimilarem o maior número de referências visuais que ele adora incluir em qualquer um dos magníficos enquadramentos das suas cenas.

Ora, quando eu soube que ele iria fazer um filme passado na Índia, quase pulei de alegria e os meses de antecipação foram longos e penosos. Felizmente, os resultados foram mais do que satisfatórios e, rapidamente, se tornou um dos meus filmes contemporâneos favoritos. As explicações seguem mais abaixo.


Inspirado nos filmes de Satyajit Ray (cuja música de Ravi Shankar ele utiliza na eclética banda-sonora, assim como faixas dos Kinks, Rolling Stones e o tema de abertura de Bombay Talkie, composto por Shankar-Jaikishan), nos documentários sobre a Índia de Louis Malle e nas produções indianas de Merchant-Ivory (já abordados pela barbie-o no post exactamente abaixo deste), este delicioso filme vai tratar da viagem física (de comboio, o titular Darjeeling Limited) e espiritual de três irmãos, representados por Adrien Brody, Jason Schwartzman e Owen Wilson, que pelo caminho vão também purgar-se de traumas recentes, nomeadamente a morte do pai e o afastamento da mãe. Como já devem adivinhar, a trama vai envolver paisagens lindíssimas, paragens em mecas espirituais e passagens com algum cariz dramático e, até, trágico.

O que torna o filme especialmente interessante para mim é o elevado grau de identificação que eu tenho com ele. Sendo um de três irmãos e tendo também perdido o meu pai em tenra idade, revi-me em muitas das situações e conflitos fraternais que daí advêm. No fim do filme, e tal como na vida real, tudo se resolve embora não da maneira como pensaríamos. Um dos factores chave para apreciarmos este filme é também a Índia que Anderson nos mostra, longe dos lugares-comuns e da visão romantizada a que certos artistas ocidentais nos habituaram. É uma Índia despojada de riquezas que nos convida a despojarmo-nos também nós de coisas que não interessam para nada na viagem de comboio que é o percurso pessoal de cada um de nós.


Mas é em França que tudo começa, num Hotel que dá o título à curta-metragem que vos convido a ver já de seguida e que serve de prólogo ao filme em si. Anderson pode ser americano de gema (nasceu no Texas e tudo!), mas a sua visão é deliciosamente europeia, captando na perfeição o discreto charme da burguesia.

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