O meu amigo Linus leu-me o pensamento e ofereceu-me o filme Bombay Talkie pelo aniversário.
Eu nunca me atrevera a comprar um filme Merchant Ivory antes porque não sabia por onde começar. É como quando decidimos que já está na altura de investir na discografia de uma banda muito boa mas que tem muitos álbuns e só a tarefa de os arranjar parece infindável. Bem, é o que eu penso da Merchant Ivory.
No entanto, Bombay Talkie era o filme que eu tinha em mente para começar. Trata-se da história do romance entre uma escritora inglesa de sucesso e um popular actor indiano, e estas personagens são interpretadas pelo casal na vida real Jennifer Kendal (cuja família inspirou o filme Shakespeare Wallah, também da Merchant Ivory) e Shashi Kapoor (um actor e produtor que eu amo muito e que considero particularmente arrojado e relevante no panorama do cinema indiano).
A temática de amores proibidos/contidos patente em muitos filmes desta produtora sempre me interessou. Pensem em Regresso a Howard's End, Os Despojos do Dia ou Maurice.
Bombay Talkie não é de forma alguma tão dramático mas não deixa de ser trágico.
A inglesa Lucia chega à Índia para observar as filmagens da adaptação de um livro seu (e aqui temos uma curta aparição da bombástica Helen as herself), e então conhece o bonito e despreocupado Vikram, o actor principal.
Vikram é casado, mas isso não impede Lucia de lhe dizer abertamente que gosta dele... e outras coisas.
A mulher de Vikram, Mala (Aparna Sen) está mais preocupada em garantir um herdeiro do que nos rumores que lhe chegam aos ouvidos. Mas isso acaba quando Lucia aparece em sua casa e tenta participar num ritual familiar. Mala pede a Lucia que se retire e Vikram vai atrás dela.
Numa tentativa de se afastar da realidade tóxica de Bombaim, Lucia acaba por passar uma temporada num ashram cheio de ocidentais, onde os fieis são obrigados a ver filmes super-8 das palestras do guru e dar-lhe de beber à boca. E Lucia farta-se rapidamente.
De regresso a Bombaim - e a Vikram -, Lucia volta a entregar-se a esta paixão proibida, seguida de perto por Hari (Zia Mohyeddin), o outro indiano apaixonado por Lucia e com quem ela flirta constantemente.
A obcessão de Lucia por Vikram e a forma por vezes desrespeitosa como este a trata, adicionadas a algum álcool e drogas hippies, precipitam um final menos feliz para este triângulo amoroso.
Independentemente do enredo, Bombay Talkie não é a homenagem aos filmes Bollywood que o anunciam. É antes uma polaroid da Índia cosmopolita dos anos 70, repleta de influências ocidentais, e da relação desconfortável entre uma ex-colónia e um ex-colonizador, em que o segundo pouco sabe da cultura do primeiro.
Este filme não tem sequências musicais de song-and-dance mas tem uma abertura aboslutamente genial. Aqui fica.
domingo, 11 de abril de 2010
Bombay Talkie
Escrevi sobre: Bombay Talkie, Cinema Indiano, Crítica, Helen, James Ivory, Jennifer Kendal, Merchant Ivory, Portugal, Shashi Kapoor, Zia Mohyeddin
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1 comments:
Ao contrário de ti, a minha reacção não foi "mas por onde começar, meu Deus?". Foi mais "mas eles também fizeram filmes na Índia?! Venham daí eles que eu já estou farto de tanta Jane Austen!". ;)Ainda bem que gostaste, barbie-o! Agora falta-me a mim vê-lo também o que vou fazer já sem demora!
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