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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Algumas palavras acerca de KALYUG (2005)

(dirigido por Mohit Suri, produzido por Mahesh Bhatt)



Esta pelicula é uma que tem aquele tipo que lá nas Indias é uma estrela da radio tv e disco (Emraan Hashmi), bem parecido e que faz de anti-herói que ganha consciência e mete-se à frente de balas entretanto já disparadas... sendo que nem é ele que foi para ali chamado. Muito bom...
Primeiro filme como principais de Kunal Khemu (carinha laroca/rapaz jeitoso) e Deepal Shaw (carinha de anjo/mnhamnha) e retorno de Amrita Singh como bera da fita (e que rouba o filme no final, sendo justamente nomeada para Best Actor in a Villainous Role).
Pelo que parece, é a primeira vez que o cinema indiano ‘moderno’ foca o tema da pornografia na internet, se bem que não deve ser a primeira que envolve drogas, prostituição, shows de strip e clubes sado-maso. Antes que corram porta fora à procura do filme, é melhor avisar que é tudo apresentado de uma forma que está lá bem no limite da sugestão (com uma ou outra coxa carnuda), dado que do principio ao fim se existe alguma coisa que o filme transpira vem com o odor da moral e é mesmo por isso que deve ser visto num estado de beatifica ingenuidade, dado que se assim for, como admito que o fiz, podem bem beneficiar de alguma rebelde lágrima ao canto lacrimejante do olho, um dos da face.

Gajas boas, frágeis e perdidas encontram gajos bons, torturados e que não levam merda para casa, preferindo salvar as gajas boas e dar cabo das gajas más, defendendo a honra das gajas mortas boazinhas, há conta dos gajos maus e de muito auto-sacrificio e sofrimento espiritual... porque esta coisa de lutar contra os males do mundo dá trabalho e chatices, embora possa ser compensado com uma beijoca da miúda, o que confirma que estamos mesmo a ver o filme do DVD e não o da vida.
Lembram-se daquela sensação em que quando acabam de assistir a um filme de estúdio americano em que a coisa é tão dramática e acaba tão bem que provoca espasmos à vesícula biliar e nós de marinheiro na coluna vertebral? Nada disso aqui.. juro-vos que dá gosto ver aquele cabrão de merda e aquela puta descorçoada quasi-felizes sem presente e com um futuro que já não vamos poder ver.

A história é aparentemente linear mas tem desvios suficiente para manter o interesse. Não é sempre que se vê uma estética bem representada bem juntinha a uma narrativa escorreita em que os números musicais se encaixam que nem mel em aperitivos salgados. Ambos os sabores seguem em paralelo e o filme pode ser visto dessas duas perspectivas com bons resultados, no entanto se tiverem um copo alcólico como companhia e baixarem as defesas bem pensantes das expectativas aparvalhadas podem bem encontrar-se no mundo criado pelos autores e fluir nas manobras emocionais do enredo.

Contada a partir de um ponto em que já conhecemos o resultado (mais ou menos), o filme não tem pressa nenhuma em despachar a coisa até aos meandros centrais da narrativa, ah pois não. Antes, vai mas é de garantir que o espectador se identifica muito bem com os meninos bons, sendo bem capaz de cortar uma mão ou mesmo um ante-braço para os ajudar. Aliás, todo o filme tem um perfeito equilibrio entre a acção e os momentos contemplativos, nem depressa, nem devagar, mas à justa como as ganga da Shakira.
Pelo meio, podem pois apreciar cinco sequências de musiquinhas (
Anu Malik, Raju Singh) bem boas. Basta ouvir o som do refrão da primeira, jiya dhadak dhadak (qualquer coisa como “ji-ha-dar-lik-darit” para ficar de sorriso parvo na tromba).
Esta descreve em cenas sortidas o nascimento do amor entre as criaturas boazinhas e, como os dois são tão fofos ficamos a pensar na porca miséria que a nossa vida é fora da tela.
A segunda é dramática, muitas recordações (flashes-bocks) e lágrima a escorrer com um crying in the rain que é um mimo.
A terceira já se passa no submundo da javardice onde o herói é iniciado na porcalhice e surge a boa má/boa numa coerografia que, se tiverem a ler e forem gajos, parem e corram à procura do filme.
Na quarta, choramos mais um pouco à conta do segundo enamoramento. Se o primeiro é todo betinho, este já cheira a algum suor ou talvez sejam os calções da Deepal Shaw.
A quinta é com os créditos e é tal e qual um videoclip normal... apenas com Indianos a mais para o que o público está habituado.
Não serão exactamente indicadas para começar a dançar e a torcer as mãos pela sala afora, mas resumem a pelicula de uma ponta à outra.

Para já, a capa desvenda o que vos espera. No centro, a miúda em posse tantalizadora com os rapazes a espreitar como se a coisa fosse a sério. Depois, se a cor certa para o filme fosse o azul é porque é mesmo e para mais quem tiver interesse em conhecer os meadros das rotas indo-europeias da sacanice, não vai estar muito longe do real, aparte as personagens coadejuvantes que fazem a narrativa avançar, o que não deixa de ser como deve ser, para um final que esperamos mas que nunca é dado como certo. E por isso e outros pormenores que vou ignorar aqui, o filme funciona acima daquela linha imaginaria que separa o crente do fariseu, e em qualquer filme que se veja apenas podemos aceder ao seu apreciar se formos à partida crentes de que tudo o que se nos mostra é verdade e verdadeiro.
Boa realização, argumento no ponto (Anand Sivakumaran) bons cenários (Rituraj Narain e Rajat Poddar), personagens emocionalmente cativantes, e em especial uma montagem (Akiv Ali) filha da puta de simples e eficaz fazem deste filme merecedor de visionamento, ainda que no final pensem que o moralometer está a começar a assobiar.
No entanto, tenham em atenção que o tema principal é a injúria e a retribuição. Num plano mais complexo de urdidos significados que evito agora elaborar (como se fosse capaz...), comparo este filme ao Lady Vengeance de Park Chan-Wook. São ambos filmes que refletem bastante bem (juro que não é da bebida) os conceitos básicos da anarquia, mesmo que tal nem passasse pela cabeça dos que o criaram. Nas mãos do ofendido jaz a regulação da ofensa e quem praticou contra outros em si recebe correcção. Também se poderia considerar que a redenção é um tema central, dado que duas das personagens, uma através da morte e outra através do amor, percorrem o caminho dos perdidos nas trevas até à revelação da luz, snif.

Outra interpetação seria: menina bonita e pobrezinha fica sozinha no mundo, descobre o amor, mata-se de vergonha, o amado procura vingança, encontra amizade, encontra bandidos, dá cabo da conspiração negra que lhe urdiam, encontra novo amor.
Pessoalmente, parece-me que ainda fica melhor servido no final, o que prova que Pavarati ou Kartikeya viram o filme e compensou o herói pela provações que tão estóicamente superou.
O filme era para se chamar Indian Porn!!! Felizmente, alguém acordou a tempo da dormência do ópio..

KALYUG é uma pedra ou um pedregulho?

Pedra!

foto1: poster tantalizador
foto2: bonzinho para indianas adolecentes
foto3: bonzinha boa para indianos de todas as idades
foto4: semi-bonzinho para indianas meia-idade
foto5: má comás cobras para todos odiar



3 comments:

bárbara disse...

Ah! Então esta música é daqui que vem. Gosto mais da outra cantada pelo Atif Aslam :)

Já agora, alterei a formatação do post para ficar igual aos outros.

Ibirá Machado disse...

Puxa, interessante! E aproveitando pra fazer um comentário sobre o título... no hinduísmo, Kalyug é a última das 4 eras do planeta Terra, na qual estamos vivendo agora. É a era de Kali, deusa da morte, onde predomina a intolerância, o individualismo e a destruição. O fim da Kalyug vem com o retorno de Vishnu, que traria a ordem de volta ao planeta e reiniciaríamos o ciclo, com a primeira das eras, que é a era dos deuses.

É interessante porque isso já estava dito há milênios... é possível traçarmos um paralelo com a visão do apocalipse aqui no ocidente, bem como com a vinda do "messias", o retorno de Jesus etc. E ainda mais com as profecias Maias, o povo precolombiano do México, que diz estarmos concluindo um grande ciclo agora e reiniciaremos o período de purificação em breve...

Om Shanti Om!

Unknown disse...

Sem dúvida. Adaptados a cada cultura/sociedade os textos relativos com a Revelação é a mesma, umas mais politeístas outras mais ou menos monoteístas... também é bem possivel que os Maias tenham recebido os conhecimentos astrológicos do povo Olmeca, pessoal saído da memória e que nem nome tinham para os maias.
A relação do titulo ao filme encaixa bem com a era de trevas pela qual os personagens passam até atingir a purificação final pela coragem. Mas não se pode fazer esta leitura da maioria da produção americana?
De notar que Om Shanti Om, o filme :), chegou a 14º no usa box office..

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