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terça-feira, 15 de maio de 2012

Shootout At Lokhandwala

O filme de que hoje vos gostava de falar tem tanto de positivo como de negativo, sendo o melhor a vontade de introduzir no cinema Indiano uma linguagem narrativa mais agressiva, raramente visto nesta cinematografia, sendo o menos bom a incapacidade de se afastar dos cânones da estrutura usual das produções convencionais.
Podendo ser colocado no grupo ainda não muito povoado das produções do cinema Indiano “mais” contemporâneo, que tenta estabelecer pontos de contacto com o cinema ocidental, Shootout parece, para fazer uma correspondência, estar mais próximo do filme de gangsters e violência urbana do cinema francês do que propriamente do americano, e se por momentos poderíamos estar a assistir um filme de Melville, logo a seguir assemelha-se a um Tony Scott desprovido do mínimo carácter deste.
Apoorva Lakhia optou por um modo híbrido. Por um lado quer imprimir acção, pelo outro aplica-lhe travão de mão. A opção da montagem ir e vir para a frente e para trás funciona tanto a seu favor como me parece que resulta contra a intenção pretendida. Para dizer a verdade, funciona… menos bem. Assisti ao filme vai para meses e estou até hoje à espera de alguma inspiração para dele falar. Tomo isso como uma pista para o efeito (pouco) duradouro, e dado que não me consigo decidir entre fazer uma critica boazinha ou uma mazinha, tentei a experiência de escrever as duas para que cada um escolhesse a que lhe parecesse mais acertada. Acabei por juntar as duas, como fizeram os produtores do filme.
O objecto fílmico começa numa toada de documentário, percorrendo algumas imagens do incidente real acontecido em 1991, que fornece o material para a restante encenação. E começa bem. Buracos de bala e sangue pelas paredes colocam o espectador no espírito da acção e dá logo a entender que o desfecho não vai trazer surpresas nem ser dos mais felizes. Fica toda a atenção para degustar a sequência de acontecimentos que levaram até essas imagens reais, o que consegue nos minutos iniciais. Um começo pouco habitual nestas andanças e bem conseguido, a prometer um filme duro e com um objectivo bem definido.
Os minutos seguintes parecem confirmar a premissa. O contexto é apresentado de forma competente e a expectativa começa a crescer. Então, deve-se dizer em verdade que, quando chega a primeira sequência musicada, uma estranheza se instala no espectador (eu mesmo). O tom da cena é totalmente contrário ao da história, onde a seriedade construída até então é deitada fora com uma leveza que me irritou até ao fim, tal foi a decepção.
As cenas passam a estar desconectadas e raramente sabem a natural. Parece ter sido tudo montado enquanto assistiam a uma partida de Cricket. Manda a bola, bate na bola, correm de um lado para o outro e ninguém derruba os postes. Os jogadores fazem o que lhes dá na gana e o treinador esbraceja com um olhar aluado, numa tentativa de estilizar a violência que sofre apenas de alguma falta de visão ou, mais terra a terra, de jeito.
A direcção de actores, se a houve, não conseguiu contrariar a prestação algo desconjuntada dos intervenientes. Parece que cada um tem uma ideia sobre o que a história precisa e a coerência do todo, se existia no argumento, esvai-se sem intuito. A. Bachchan que teria um papel fundamental no desenrolar da linha narrativa é tão expressivo como a sua figura de cera que agora mora no Tussaud. Diz-se que filmou todas as cenas em 5 horas. Acredito

Em sua defesa está as tolices do guião, tanto nas frases mas especialmente na “postura” que acharam por mal dar ao personagem. Os seus diálogos com Sanjay Dutt, Arbaaz Khan e Sunil Shetty podem bem atacar os nervos dos mais sensíveis tal é a incoerência dessas cenas, que se intercalam ao logo do filme. Para o fim, já se começa a sorrir com o absurdo do frete. No entanto, verdade seja dita, é o grupo dos bandidos que realmente atinge pícaros de ineptidão interpretativa. Se não existe qualquer elo emocional com qualquer um dos personagens, é nestes que sobressai a incapacidade do argumento em criar seres interessantes. Para além de assassinos sem tento, bêbados e mulheregos, nada mais neles existe a não ser o ar engatatão que, ninguém parece ter notado, só nos faz desejar que tenham uma morte bem dolorosa, e nem essa pequena redenção é bem oferecida ao espectador. Não é sempre que desejamos ver uns parolos a morrer em tortura absoluta mas o director deve ter achado que havia algum componente de redenção nos indivíduos. Pelo meio, esqueceram-se de criar pelo menos um que se notasse nas duas horas de filme.
Tecnicamente, a coisa é corriqueira, mas não temos qualquer problema com isso. Temos sim com a total falta de credibilidade dada às muitas cenas de acção (vulgo tiroteio). Acho mesmo que é uma falta de consideração pelo espectador quando um filme que se assume com seriedade (muita), julga que pode pôr gente alvejada a lutar corpo a corpo, policias que não sabem pegar numa arma, espingardas e revolveres com balas ilimitadas, intervenções policiais que parecem putos a jogar à apanhada e eterecetas e tais, sem respeito pelo discernimento de quem lhes vai pagar o salário.
A câmara é manuseada de forma bem diferente dos habituais enquadramentos sem mácula e medidos ao centímetro. A sua aprovação não é fácil, pois é algo com elevado teor de preferência pessoal. Se por um lado se pode considerar que a forma como foi filmado denota vontade em se diferenciar, a forma resulta numa amálgama final desprovida de afectividade pela história, o que não ajuda o filme a conectar com o espectador. Aqueles que o conseguirem (pode ser pelo canto do olho) podem pelo menos encontrar alguma piada na direcção desnorteada, nos diálogos um pouco para o tonto ou pelo global desconexo do argumento.
As cenas dançantes até podiam não fazer qualquer sentido no meio do dramatismo requerido pelos acontecimentos, mas a mediocridade das cenas e das músicas (incluindo as letras, que nossa senhora…) fez-me duvidar da opção de despender o tempo de vida da sua duração.
Uma nota positiva para Amrita Singh, a única actuação que me parece destoar pela positiva e que, ainda que num papel menor com pouco tempo de ecrã, mostra a todos como é fácil ter uma boa interpretação sem os maneirismos de estrela que impregnam as restantes.
Estamos, resumindo, diante de um filme que, tivesse sido apresentado sem as sequências dançantes poderia ser considerado como uma interessante peça de cinema, sendo aquilo que é, não passa de uma curiosidade que falha em conseguir atingir todo o seu potencial.
Mesmo assim, ou por isso mesmo, aconselho o seu visionamento a todos aqueles que se posam interessar por um exemplo de cinema Indiano que tenta romper com os trâmites normais a que este nos habitua. O filme tenta mesclar um filme de acção/policial sério e real com a inclusão da estrutura a que o público indiano reconhece e espera assistir. Falha, penso eu, porque parece que as duas partes foram compostas por compositores diferentes, cada um para o seu lado, para que depois a montagem se encarregasse de os intercalar. O resultado anula cada uma das partes.
O filme tem pouco mais de 2 horas de metragem. Tivesse 90 minutos, ignorado cenas musicais, um maior cuidado nos diálogos e na credibilidade do tiroteio final, e poderia estar no patamar de culto, tendo em conta a sua diferença no cinema de onde vêm. Assim, fica no patamar da extravagância para interessados.

1 comments:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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