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sábado, 21 de janeiro de 2012

Siddhartha


Confesso que não sou, nem estou tão esclarecido sobre a cultura indiana como alguns membros deste blogue. Mas, e talvez exactamente por causa disso, considero a minha colaboração igualmente importante. Estatisticamente, o Grand Masala deve ter um número considerável de leitores que pertencem à minha faixa demográfica, pessoas que vêm cá ter porque o fascínio que a Índia exerce sobre elas é imenso e incomensurável, mas que não possuem um conhecimento académico ou sequer particularmente alargado sobre a sua riquíssima cultura. É pois, e seguindo essa linha de pensamento, que para mim se torna mais natural (e facilitista, confesso também) abordar obras de artistas ocidentais que se debruçaram sobre temas indianos (não correndo assim o risco de me ver “às aranhas” a meio de um filme ou livro genuinamente indiano por não ter a “bagagem” cultural suficiente para compreender tudo aquilo que me está a ser transmitido). A meu ver, isto não tira qualquer crédito ou valor a essas mesmas obras porque, e aposto que estatisticamente também, a maior fatia de leitores deste blogue é igualmente ocidental.



Introdução feita, mãos à obra. Siddhartha, o segundo e, até à data, último filme do norte-americano Conrad Rooks, uma adaptação do livro homónimo do germânico Herman Hesse.

De notar que, embora o título do livro remeta à vida de Buddha (o príncipe Siddhartha Gautama, de seu nome), este filme e a obra de Hesse não são sobre a sua vida. A acção decorre, no entanto, durante a existência de Buddha na Terra. E é aí que vamos encontrar o epónimo herói, filho dedicado e abastado que decide ir à procura de iluminação espiritual, abandonando a sua família, fazendo tabula rasa de todos os ensinamentos até aí adquiridos e partindo à aventura com um amigo, de nome Govinda. E se as semelhanças com a vida do próprio Buddha começam a ser mais do que muitas, elas acabam aqui. E mais não digo, como me é já hábito.


Falo-vos, no entanto, sobre a história do próprio filme, ou melhor, de quem o fez. Venha daí então o making of.

E realmente este filme foi feito por pessoas cujas vidas pessoais e artísticas valem a pena serem aqui referidas. Começando logo pelo realizador, Conrad Rooks, que uma rápida pesquisa online nos revela ser um dos herdeiros da fortuna dos cosméticos Avon! Quem diria! Sim, porque este senhor começou a sua carreira com um clássico do cinema underground – Chappaqua – e conhecia grandes nomes da geração Beat, Allen Ginsberg e Timothy Leary, entre outros. Sabendo isto, torna-se natural para Rooks abordar o livro de Hesse que tanto furor estava a fazer na altura junto dessa faixa cultural que ainda hoje tanta influência continua a exercer sobre os nossos artistas contemporâneos.

Outro nome digníssimo de referência é Sven Nyqvist, o director de fotografia e um habitué dos melhores filmes de Ingmar Bergman. É, aliás, a sua colaboração com o mestre sueco que iria produzir os maiores clássicos da filmografia de ambos. Ora e isto quer dizer o quê: quer dizer simplesmente que o filme é lindíssimo de ver. Há imagens que nos ficam na memória pela sua extrema beleza e este é um dos grandes trunfos de Siddhartha, o filme. E uma dessas imagens foi a causadora da grande controvérsia que se criou à volta deste filme lá para as bandas da nossa querida, mas mui conservadora, Índia. Não é que a actriz principal, Simi Garewal, foi bastante criticada por protagonizar uma das mais belas cenas de sexo no grande ecrã que já me foi dada a ver? Bem, mas sabendo nós que na altura a censura indiana nem um beijo na boca permitia, não é muito de admirar…


Last but not least, temos Shashi Kapoor. Podem acreditar que, neste momento, pelo menos um dos elementos deste blogue suspirou. E é ele o nosso herói, o que vai aprender as grandes lições de vida que este mundo nos reserva e uma outra ainda maior, a razão principal que leva Hesse a escrever o seu livro, o segredo da própria Vida. E se a esta hora do campeonato ainda não ganharam vontade de ver este filme, deixo-vos com um repto: à época, uma das maiores críticas que fizeram foi de que o filme estava muito “colado” ao livro, que o seguia muito à risca. Sabem o que vos digo: se não seguisse, também era criticado. Preso por ter cão, preso por não ter, já se sabe. Vejam-no, então e digam de vossa justiça, é a proposta que vos deixo. Uma coisa é certa: vão querer ler o livro depois e o melhor é que já vão ter imagens belíssimas gravadas na vossa retina para acompanhar as igualmente belas palavras lá contidas.

[escrito por Linus]

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