website statistics

domingo, 4 de dezembro de 2011

Jalsaghar - A Sala de Música


No seu ensaio Urdu, Awadh and the Tawaif (disponível gratuitamente, ainda que por meios ilegítimos, na internet), Mukul Kesavan escreve:

Jalsaghar is not a naturalist film; it is a dramatised elegy about the passing of a cultivated, if decadent, way of life (...) and Ray is a scrupulous mourner.

Com efeito, Jalsaghar - filme realizado em 1958 pelo bengali Satyajit Ray - tem tudo aquilo que aprendemos a amar no cinema de época indiano: dança, poesia e saraus musicais onde as bailarinas dançam kathak ao som de música clássica tocada ao vivo. E no entanto, Jalsaghar relembra-nos duramente que tudo isso está associado exactamente a uma época e a um tipo de classe social que não voltam mais.

Chhabi Biswas (um actor que assumidamente não percebia nada de música e que durante as filmagens se esforçou para exclamar 'wah-wah!' nos momentos certos e fazer de conta que acompanhava o ritmo) caracteriza na perfeição Biswambhar Roy, um aristocrata (ou zamindar) em decadência que outrora promovia concertos e eventos musicais na sua gigantesca e luxuosa sala de música e que agora se vê forçado a contar os tostões para sustentar a família e os poucos empregados que não o abandonaram.

Ao ser confrontado com a (tentativa de) ascenção social de um vizinho novo-rico que tenta, de várias formas, mimetizar o estilo de vida dos antigos aristocratas, Roy esquece-se da sua verdadeira condição e empenha tudo o que tem a tentar superá-lo, decidindo recuperar a sua sala de música e contratar os melhores músicos e a melhor bailarina de que ouve falar.

Roy acaba por perder a mulher e o filho durante uma tempestade, depois de os ter chamado para que o filho tomasse parte num sarau musical. A música, que em Jalsaghar acaba por funcionar como uma personagem em si mesma, ergue-se vertiginosamente naquela que é provavelmente a cena mais dramática do filme.
Numa entrevista que acompanha a edição francesa da banda-sonora, Satyajit Ray confessa que receou que o estilo de música que acompanha essa cena em particular (khyal) não fosse bem recebido pelo público internacional, mas que a tensão causada na audiência pela antecipação da morte da criança acabou por dissipar esse receio.

Jalsaghar é, pois, um filme que deixa um fardo muito grande no espectador, que dificilmente deixará de sentir alguma empatia pelo aristocrata teimoso cuja única culpa é, no fundo, querer rodear-se de cultura e de coisas bonitas.
Aqui fica uma cena de kathak maravilhosa, para a qual Ray recrutou a bailarina Roshan Kumari. Obrigada à Minai por me ter chamado a atenção para este filme e ao nosso Linus por me ter emprestado o DVD.


2 comments:

Pedro disse...

"Com efeito, Jalsaghar - filme realizado em 1958 pelo bengali Satyajit Ray - tem tudo aquilo que aprendemos a amar no cinema de época indiano: dança, poesia e saraus musicais onde as bailarinas dançam kathak ao som de música clássica tocada ao vivo. E no entanto, Jalsaghar relembra-nos duramente que tudo isso está associado exactamente a uma época e a um tipo de classe social que não voltam mais." esse paragráfo meu deu uma dor no coração sou nostalgico demais :S

bárbara disse...

Ahahahahah! Pedro, o nosso nawab preferido! <3

Related Posts with Thumbnails
 
Template by suckmylolly.com - background image by mjmj lemmens