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domingo, 8 de agosto de 2010

Pather Panchali

Como escrever sobre um filme como este? Como prestar homenagem a uma obra que tem tanto de humanista como de lírico? A resposta é: com muita humildade.


Adaptado de uma obra de Bibhutibhushan Bandopadhyay, Pather Panchali narra a história do pequeno Apu e da sua família. E em traços largos, o filme é isto. O dia-a-dia de uma paupérrima família e das suas relações. Nem mais, nem menos.
Agora, o que todos sabemos é que o dia-a-dia é cheio de surpresas, sejam elas boas ou menos boas, e é o seu efeito acumulativo o combustível da vida humana. Por esta altura, devem estar a pensar que eu estou a fugir um pouco ao enredo da história. E acertaram. Este filme merece ser visto com olhos limpos de qualquer influência que turve a sua visão. Temos de ser tão puros quanto o olhar de Ray o é.


Fiquem só com a noção que Apu ainda não é nascido quando o filme começa. Durga, como sua irmã mais velha, vai também ter um papel fundamental na história e os dois vão ser protagonistas das cenas com mais magia deste fabuloso primeiro filme de Satyajit Ray. Sim, porque foi o seu primogénito, de uma carreira riquíssima em pérolas da 7ª Arte. E já que estamos a falar da sua carreira, podemos acrescentar que o Cinema não era a grande ambição de Ray. Longe disso. Mas foi após ter visto o clássico Neo-Realista Ladri di biciclette de Vittorio de Sica que ele decide que os 24 fps iriam ser o seu meio de expressão eleito. E as influências são notórias em relação ao lendário movimento italiano: filmado com muito poucos recursos, histórias com elevado teor social, cenários locais e iluminações naturais. E falando em iluminação, há que salientar que Subrata Mitra, o director de fotografia com quem Ray mais trabalhou e mais técnicas desenvolveu, criou não neste filme, mas no próximo (Aparajito, a segunda parte da Trilogia) uma técnica de iluminação em cenários ao ar livre que passou mais tarde a ser utilizada por grande parte dos profissionais de fotografia: a da refracção da luz pelo método bounce lighting.


Se juntarmos a este já frondoso ramalhete a música de Ravi Shankar que aqui serve de banda-sonora, o resultado é uma obra genuinamente indiana com a capacidade rara de tocar universalmente cada alma que entre em contacto com este filme de igualmente rara delicadeza. E, tal como na vida, em Pather Panchali há de tudo: nascem e morrem pessoas, há risos e há sofrimentos, sonhos perdidos e sonhos gorados, grandes mudanças acompanhadas de grandes conflitos, enfim, vive-se! Mas para fechar com chave de ouro, passo a voz a Kurosawa que sumariza o filme de uma maneira que tem tanto de humilde como de lírico, fechando assim o círculo desta pequena recomendação para verem este clássico de Ray com toda a urgência:

"I can never forget the excitement in my mind after seeing it. I have had several more opportunities to see the film since then and each time I feel more overwhelmed. It is the kind of cinema that flows with the serenity and nobility of a big river... People are born, live out their lives, and then accept their deaths. Without the least effort and without any sudden jerks, Ray paints his picture, but its effect on the audience is to stir up deep passions. How does he achieve this? There is nothing irrelevant or haphazard in his cinematographic technique. In that lies the secret of its excellence."

5 comments:

bárbara disse...

Maravilhoso. Neste momento estou numa de total absorção de cinema tâmil, mas a seguir parto para o bengali. E depressinha!

Anônimo disse...

E eu acho que vou fazer o percurso inverso! :)

Ainda bem que gostaste. A ver se é desta que te ponho a ver Satyajit Ray.

Carol Juvenil disse...

Vi o Ladrões de Bicicleta quando tinha uns 15 anos e lembro de não gostar dele, motivo este que me fez demorar a assistir Pather Panchali. Daí que decidi assisti-lo um dia desses e senti algo tão bom...parecia que estava mais leve, apesar de haver tanta tristeza no filme. Foi a simplicidade dele que me inundou.

Ibirá Machado disse...

A Carol é fofa e o filme também. Não, o filme é lindo.

bárbara disse...

E o quê, a Carol não é linda?

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