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sábado, 30 de janeiro de 2010

Baghban - O Criador

Drama familiar, sem rodeios nem inovações estranhas ao género, Bagham cumpre exactamente o que promete e funciona a um nível acima da média das produções similares. A principal razão para que tal assim seja deve-se às interpretações de Hema Malini e Amitabh Bachchan. A química transmitida entre os dois é a base sobre o qual um tipo de história recorrente se transforma em algo que nos envolve nos sentimentos narrados, imiscuindo o espectador no amor que sentem um pelo outro, com pormenores bem conseguidos que nunca sabem a artificiais.
Mesmo considerando que Bachchan está ao seu melhor nível, e sem desprimor para os restantes que cumprem os seus papéis de forma credível, uma referência especial deve ser feita a Malini, pois é pela sua presença despretensiosa que a qualidade de algumas cenas realmente sobressai, mantendo-se constantemente afastada da periclitante linha que separa o comovente do sentimentalismo bacoco.


Salman Khan tem um papel secundário mas de importância vital e porta-se muito bem, num registo de uma fragilidade de discurso que penso ser única na sua filmografia. Mahima Chaudhary para além de bonita não tem oportunidade de mostrar mais que isso. Aliás, a dimensionalidade com que os ‘maus da fita’ são compostos é o único aspecto realmente negativo do filme, pois ou não justifica convenientemente a sua conduta ou os retrata como simples corpos sem massa, respectivamente as enteadas e o namorado da neta, que passam pelo argumento como notas de rodapé.



Um filme produzido por B.R. Chopra, que segue a sua linha preferida, em que as relações familiares são a suporte da trama, dirigido por Ravi Chopra de forma descomprometida mas eficaz, em que os seus melhores momentos são os grandes planos nas sequências mais emocionais. As músicas de Aadesh Shrivastava são inspiradas e as melodias ajustam-se às cenas coreografadas, tendo um dos seus melhores momentos ao passar quase despercebida numa sequência em que o casal principal se confessa pelo telefone. Nesse, e em todas as outras situações, as letras de Sameer são inventivas e resumem de forma acertada o ponto da história em que estão inseridas.


A música de fundo é particularmente boa. Ao longo das cenas em que intervém, permanece no ouvido de forma subtil, o que é dizer muito, tendo em conta que este é um aspecto que nem sempre é tido em muito boa conta nas produções do género. Outro aspecto interessante é o de que algumas das personagens secundárias são o suporte emocional sobre o qual a história faz sentido. Os amigos e os netos do casal fornecem a energia necessária para o desfecho final e podemos dizer que são eles que tornam o discurso final de Raj verosímil.


As personagens dos filhos nunca são devidamente desenvolvidas e em tal se nota a parcialidade do argumento. No entanto, esta pode ser melhor compreendida quando introduzimos o contexto cultural ao visionamento. A divida que os filhos têm para com os progenitores colhe uma importância essencial na estrutura social Indiana, e se no limite o podemos considerar como conto moral, a história não deixa de ser credível, em especial porque não segue o caminho habitual em que tudo acaba bem. O pai renega o arrependimento dos filhos, mas não de forma displicente. A sua bitola de comparação mora no filho adoptivo que o considera como um deus. Foi ele que lhe deu a vida (a educação, o amor...) que tem, quando nenhuma viria a ter quando essa família o recolheu. Raj e Pooja, centram-se no amor que o filho adoptivo e os netos nutrem por eles, e afastam-se da injustiça com que julgam terem sido tratados pelos seus filhos legítimos.


Nada de novo aqui, mas tudo filmado de forma simples e favorável ao todo que compõe a obra. A cinematografia é boa e a montagem se bem que não destoa podia ser mais arrojada, o que talvez satisfizesse os espíritos mais aventureiros mas pudesse afastar o grande público ao qual o filme é claramente direccionado. Resumindo, embora nunca original, estamos perante um bom trabalho na maioria das suas componentes.
O que me fica na memória é a opção com que os pais repreendem os filhos no desfecho. Não há perdão, apenas uma aceitação de que os actos têm consequências. Trata-se de uma escolha emocional básica e nessa simplicidade de discernimento reside a força deste filme, que recomendo a todos aqueles que apreciem dramas com algum lacrimejar, mas sem excessivos dramatismos.


(apesar de não ser um filme centrado nas músicas, no entanto gostei de todas, o que tornou a escolha difícil. Decidi-me pela sequência em que o lado alegre do filme tem o seu melhor momento, assim como (para destoar) incluir uma segunda cena que me fez lembrar um momento idêntico, a comemoração do Holi, num outro filme que no GM gostamos muito..)



4 comments:

Ibirá Machado disse...

Nem nunca tinha ouvido falar nesse filme :o

E pra variar tem cena de holi :)

Rodolfo disse...

se há alguém que consegue sempre ver os filmes de que mais ninguém se lembra/ouviu falar, esse alguém é o nosso amigo arleqvino :)

bárbara disse...

Amigo Rodolfo, mas nós temos este filme :) Mesmo que não o tenhamos visto ainda, é verdade.

Arleqvino, os teus textos são sempre bons mas gostei particularmente deste. Muito pro ;)

Gosto muito de ver o casal Amitabh Bachchan/Hema Malini no cinema, são muito mais credíveis do que quando é o Amitabh a contracenas com a própria mulher. Hmmm...

Ibirá Machado disse...

Hahahahahahaah! Com certeza! Mas é que a Hema Malini é a Hema Malini, é por isso...

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